Entrevista ao Dr. Sérgio Paiva, Clínica Veterinária Monte dos Burgos, Porto 23.10.2012
  Quando vai passear o seu cão parece mais que está a fazer ski? As consultas de comportamento podem ajudá-lo com esse problema.

Por vezes, pode não compreender algumas atitudes ou simplesmente ceder a actos menos próprios do seu animal de companhia. Só que, lembre-se, nem tudo é uma questão de feitio.

Há erros de comportamento que precisam de ser corrigidos, sob pena de tornarem o seu dia-a-dia mais complicado. O Dr. Sérgio Paiva, da Clínica Veterinária Monte dos Burgos, no Porto, explica-nos a importância das consultas desta especialidade e fala-nos também de outras, nomeadamente a neurologia/neurocirurgia.


Na Clínica Veterinária Monte dos Burgos, os animais de companhia podem frequentar consultas de comportamento. Os donos estão sensibilizados para a sua importância?

Pode até nem ser o motivo da consulta, mas o problema de comportamento acaba por ser constatado, com sinais como, por exemplo, o vómito. O que as pessoas se habituaram a aceitar como feitio no animal não é, na verdade, feitio. É um erro de comportamento. Vemos que as pessoas se habituam a estes defeitos de comportamento e assumem que é um feitio. Mais de 90% dos donos têm queixas de comportamento do seu cão, mas, em vez de mudarem, moldam-se ao comportamento do animal.


É precisamente para contrariar isso que as consultas de comportamento existem. Como funcionam?

Explicamos que elas existem – e com ajuda dos media, os donos começam a perceber que são importantes. A Psicologia animal é um ramo de Veterinária e nós temos uma profissional dedicada a essa especialidade, com formação contínua.

Ora, se um cão é agressivo, esse é um problema imediato. Mas há outros: há pessoas que têm medo de sair de casa, porque o seu cão pode destruir tudo. Isso não faz sentido. O que deve ser feito é ensinar o animal a ficar sozinho. E é igualmente preciso perceber qual a origem do problema e o que fazer para deixar de acontecer.

Dou-lhe um exemplo de perceções completamente diferentes do que na realidade o cão interpreta. Quando as pessoas têm cães pequeninos, depois de eles defecarem, os donos vão rapidamente limpar as fezes. O cão interpreta que as fezes podem ser valiosas e, por isso, alguns começam a comer as fezes. As consultas de comportamento são importantes para corrigir isso.


E há sucesso garantido?

O sucesso depende da disponibilidade do dono em trabalhar com o animal, e também do próprio animal. Perceber há quanto tempo existe o problema também é um factor importante. O investimento que as pessoas fazem na educação do animal vale ouro daqui a uns anos. Quantas pessoas existem que não conseguem passear o seu cão e, quando o fazem, parece que vão a fazer ski? Algumas ficam até com tendinites. Empregar tempo a treinar o cão e ensinar-lhe contactos básicos de respeito em relação ao dono e aos outros são aspectos fundamentais. Tudo isto sem ter de levantar a voz.

São exemplos de comportamentos que podem ser corrigidos no início, evitando problemas futuros. O treino e a educação não são só para animais agressivos. Se os animais de companhia, em geral, não forem educados, agem instintivamente.


A Clínica Veterinária Monte dos Burgos também se dedica às especialidades de neurologia e neurocirurgia. É frequente aparecerem animais com doenças deste tipo?

Todas as raças têm uma predisposição para determinado tipo de doenças, como patologias da coluna vertebral ou outras degenerativas associadas à idade; ou epilepsia primária ou secundária. 

Animais com problemas hormonais também podem ter manifestações neurológicas. O diagnóstico só se consegue através de um investimento considerável por parte dos proprietários. E exige trabalho de equipa, porque aborda mais do que uma especialidade.


No vosso hotel veterinário, o check out é bem mais generoso do que nos hotéis humanos. Como funciona?

O que o hotel visa permitir é uma mudança no estilo de vida dos donos. Se antes não podiam sair ao fim-de-semana, porque não tinham ninguém para ficar com o seu animal, agora deixam-no aqui uma noite e vão passar o fim-de-semana fora. Pagam apenas uma noite. A grande vantagem em relação ao hotel humano, em que o check out é ao meio-dia é que, aqui, podem vir buscar o animal até às 20h. Deixam-no sábado de manhã a partir de 9h30 até às 20h de domingo.


Numa altura de crise como a que o país vive, com o agravamento de impostos em 2013, teme que as preocupações com a saúde do animal e o conforto de toda a família fiquem para segundo plano?

Há uma coisa que contrabalança esses aspectos negativos, que é a ligação emocional. Atualmente, as pessoas retraem-se nos gastos, mas o que tendem a fazer é a esforçarem-se mais pelo laço emocional, para que o seu animal fique bem. 

Tentamos corresponder a isto no tipo de tratamento que apresentamos aos proprietários. Compreendemos que o laço emocional é muito forte. Os animais de companhia são membros da família. 

Neste contexto, os seguros de saúde são muito importantes para conferir tranquilidade. Os acidentes não se programam. Têm de se prevenir.