Entrevista à enfermeira Liliana Gonçalves e à Drª Raquel Pina do Hospital Veterinário de São Bento, Lisboa 17.07.2012
   O Hospital Veterinário de São Bento tem uma equipa de 15 profissionais. Para além do atendimento 24 horas, as consultas via Internet, através do Skype, são também frequentes. Oncologia é uma das especialidades para as quais este hospital tem tratamento disponível.

Dar nem que seja mais um dia de qualidade de vida aos nossos animais de companhia é uma missão. Uma missão feliz, que conta igualmente com o papel imprescindível dos enfermeiros veterinários.
     
O Hospital Veterinário de São Bento conta com 15 profissionais. Como funciona o serviço de urgência?

Desses, há sempre pelo menos dois profissionais durante a noite toda, no Hospital, de plantão. Temos atendimento permanente, 24 sobre 24 horas.

Para além das consultas presenciais, possuem também atendimento online?

Temos trabalhado bastante com os donos através do Skype. Há cada vez mais pessoas a recorrerem a esse tipo de serviços, porque muitas vezes não têm capacidades monetárias para vir a uma consulta. É um meio utilizado sobretudo para consultas de aconselhamento.

A marcação de consultas presenciais, sobretudo as de rotina, pode ser efetuada também pela Internet ou por telefone.

Os clientes têm, para esse efeito, acesso a uma área reservada no vosso site?

Sim. Na área reservada a clientes podem aceder ainda a todo o tipo de exames efetuados e aos nossos comentários clínicos. Desta forma, têm sempre presente o historial dos seus animais de companhia.

A Drª Liliana Gonçalves é enfermeira veterinária. Pode explicar-nos quais são as suas funções? 

Um enfermeiro funciona como o elo de ligação do hospital. A minha área é a cirurgia, preferencialmente. Temos mais duas colegas na área das consultas e outras no internamento, mas acabamos por auxiliar os médicos veterinários nos vários departamentos.

Ao nível da cirurgia, o dia-a-dia passa sempre pela receção dos pacientes, pela preparação do animal para a cirurgia - é importante conhecermos o seu historial, por causa da anestesia -, e pela preparação do próprio bloco operatório. A ideia é que o cirurgião, quando entra no bloco, tenha tudo pronto para começar a operação. Nós ajudamos na monitorização e depois também temos responsabilidades no pós-operatório, no tratamento de feridas, por exemplo.

Há alguma cirurgia em particular que tenha guardado na memória por ter sido um caso especial?

É dificil eleger um caso. Cada cirurgia é uma luta. Temos a vida do animal das nossas mãos. Há casos em que temos de lutar do início ao fim da cirurgia. Quando terminamos com sucesso e vemos o amiguinho junto dos seus donos é uma felicidade enorme!

A profissão de enfermeiro veterinário é recente. As clínicas, em Portugal, estão sensibilizadas para a mais-valia que estes profissionais representam? 

Há cinco anos diria que não, mas acredito que, nesta altura, já grande parte dos centros de veterinária conseguiu, finalmente, perceber a mais-valia de um enfermeiro. É um profissional que encaixa perfeitamente na estrutura e alivia muito os médicos veterinários.

Temos responsabilidades que muitas vezes um médico veterinário não tem, como a gestão de clientes, a receção. Também direcionamos os clientes e procedermos à gestão de stocks dentro de um hospital. São tarefas que muitas vezes passam ao lado dos veterinários, porque não conseguem, como é natural, desdobrar-se em vários para ter controlo sobre tudo isso.

Em que situações é que o enfermeiro pode «substituir» o médico veterinário?

Não existem situações em que possamos substituí-lo diretamente. Ele é que é o médico veterinário e não pode ser substituído, mas há procedimentos que podemos fazer sem a sua presença e outros realizados com o seu consentimento.

A Drª Raquel Pina é a médica veterinária mais vocacionada para os tratamentos oncológicos. As patologias cancerígenas são frequentes?

É mais raro aparecerem em animais jovens. Mas já tive um caso de um animal com cerca de 10 meses. Os linfomas e os cancros de mama são dos mais comuns. Estes últimos em gatas e cadelas.

Como se processam os tratamentos? Nos casos menos graves, os animais respondem bem à quimioterapia. Dependendo da patologia e da sua gravidade conseguimos dar qualidade de vida ao animal por mais tempo, durante um ano e meio ou dois.

As idas ao Hospital são constantes nesse período?

Os animais são acompanhados presencialmente e por telefone. Pelo menos durante o primeiro meio ano, as vindas ao Veterinário são, de facto, constantes, sobretudo enquanto os donos não estão muito habituados à patologia.

Mas temos, por exemplo, um cão com um linfoma há dois anos, cuja dona já tem alguma genica nestas lides e consegue, em casa, lidar com a doença sem desesperar.

Como é que um dono consegue perceber que o seu cão tem algum sintoma patológico?

Há linfomas que acabam por ser silenciosos, mas há sintomas que os donos conseguem perceber bem: papos no pescoço, no caso dos cães; dificuldades respiratórias, no caso dos gatos, sendo que, naqueles que têm uma idade mais avançada, as diarreias, ou o emagrecimento (embora o animal até tenha apetite), constituem motivos de alerta.

As histórias felizes são aquelas em que conseguimos dar nem que seja mais um dia ao animal para que viva com qualidade, apesar da doença. Essa é a minha alegria no dia-a-dia.