Entrevista com a Dr.ª Carla Martins, Clínica Veterinária de Canidelo 11.05.2011 Portugal está novamente nos braços do Fundo Monetário Internacional e as novas medidas de austeridade mostram que vamos ter de apertar (ainda mais) o cinto. Teme que os gastos que os donos têm com os cuidados de saúde dos seus animais sejam relegados para segundo plano?

Estou preocupada sobretudo como cidadã, em relação às contrapartidas da ajuda externa. Como veterinária, não acho que eles sejam deixados para segundo plano. As pessoas estão cada vez mais sensibilizadas e cada vez mais se preocupam com as necessidades e direitos dos animais. E o investimento na medicina preventiva é a melhor solução, para os animais de companhia e para as nossas carteiras.

Em que medida?

Se o proprietário do animal seguir os nossos conselhos de prevenção (e não passam só pela vacinação), até pode pensar que gasta mais, mas, no longo prazo vê que é precisamente o contrário, uma vez que dessa forma se conseguem prevenir doenças e tratamentos dispendiosos.

Pode poupar se trouxer o animal pelo menos duas vezes por ano ao veterinário. Vejamos: se o animal tiver um nódulo que seja detectado numa fase inicial, com uma pequena anestesia local é resolvido; se deixar andar ou for descoberto bem mais tarde, a cirurgia poderá ser muito maior, implicar até anestesia geral, mais exames… Logo, será mais dispendioso, o que não aconteceria se fosse logo tratado.

Essenciais são também as desparasitações internas e externas. Na verdade, noto que os donos ainda se desleixam um pouco nesta matéria. Ainda aparecem aqui animais infestados com pulgas e carraças, sem necessidade. Temos, neste momento, um gatinho internado com uma doença provocada pelas pulgas. Se tivesse colocado uma pipeta todos os meses, não teria acontecido.

De qualquer modo, penso que se os seus amigos de quatro patas estão doentes, os donos não deixam de vir com eles ao veterinário, por mais que o orçamento familiar esteja a atravessar uma fase complicada. Podem é, por exemplo no caso de o ideal ser o animal fazer um raio-X e uma análise, optarem só por um deles.

E isso não pode comprometer o tratamento?

Quando comecei a trabalhar, há 17 anos, os meios de diagnóstico que temos hoje não existiam. O diagnóstico era muito mais intuitivo, mas sempre conseguíamos proceder a algum tratamento e fazíamos igualmente tudo pelos animais.

Agora a oferta é muito mais ampla, mas no caso de os donos não poderem suportar os custos, há sempre a possibilidade de optar por um tratamento mais faseado, sendo que, com base nos dados que vamos tendo, implementamos o que nos parecer melhor naquele momento.

Por falar em tratamentos, quais é que se destacam na Clínica Veterinária do Canidelo?

Fazemos um pouco de tudo: consultas e consultas preventivas – por exemplo, no caso de animais seniores enviamos cartas aos clientes, lembrando que o animal tem mais de sete anos e quais as patologias que podem aparecer nessas idades e que um check up é muito importante para prevenir doenças.

Os clientes têm aderido e já têm sido detectados problemas com a doença numa fase inicial. Mesmo que se detectem já mais tarde, tem sido possível iniciar um tratamento em que, pelo menos, seja prevenida a evolução da patologia.

Destaco ainda os raio-X e radiografias, bem como a endoscopia.

Os animais também fazem endoscopias?

Sim, claro. Há animais que vomitam regularmente e, nesse caso, são sujeitos a este exame, que implica sempre uma anestesia geral. Se um dono nos diz que o seu animal de companhia vomita de vez em quando, nós perguntamos: «Quando é que é de vez em quando?»; é que, repare, uma vez por semana já não é só de vez em quando.

Mas também há outros casos: tivemos aqui de um animal que teve períodos em que vomitava e outros não. Fomos fazendo alguns raio-X e radiografias e optámos depois pela endoscopia. Só com este exame é que detectámos o problema: ele tinha uma rolha de um garrafão de água no estômago, já completamente espalmada que, felizmente, não causou nenhuma obstrução, uma vez que não chegou ao intestino. No entanto, andava no estômago, de um lado para o outro. Certo é que, depois de a retirarmos, o animal nunca mais vomitou.

Se surgir uma urgência desse tipo, os clientes podem deslocar-se com os seus amigos de quatro patas ao veterinário a qualquer hora?

Sim, temos um serviço de urgências 24 horas. Podem contactar-nos através do 91 484 26 15 ou pelo 22 781 00 20.

Para além disso, fazemos consultas ao domicílio. Na verdade, quase todos os dias e cada vez mais. Normalmente, são pessoas mais idosas, com dificuldade em se deslocar com os seus animais de companhia, que solicitam este serviço; ou proprietários de cães grandes ou raças tendencialmente mais perigosas que não circulam regularmente na via pública, mas que podem precisar de tratamento ou então de transporte para o caso de terem de efectuar algum exame específico na clínica.


Nota da Animadomus: Logo no início deste mês, a bastonária da Ordem dos Médicos Veterinários, Laurentina Pedroso, veio alertar, citada pela agência Lusa, “para as dívidas que se têm acumulado nas clínicas veterinárias. Já há um número significativo de clientes a optar pelo adiamento de tratamentos ou pela eutanásia dos animais.”

Estas são situações que, como acabámos de ler no separador “Entrevista Com” a medicina preventiva ajuda, de algum modo, a evitar.
Por outro lado, existem cada vez mais Seguradoras que disponibilizam soluções que permitem, aos donos dos animais de companhia, obter uma comparticipação em todo o tipo de actos médicos, quer seja eles de rotina, prevenção, por motivos de doença ou originados por um acidente.