Entrevista com Dr.ª Cristina Perdigão, Hospital Veterinário do Seixal 14.04.2011 1 - Agora que a Primavera chegou, chegam também as alergias. Os animais são por elas afectados?

As alergias mais frequentes são à picada da pulga, porque há animais que fazem uma dermatite alérgica. Embora as alergias aos pólenes e aos ácaros do pó também aconteçam, os cães têm mais alergias de pele, apresentando sintomas de prurido ou comichão na cabeça.

Os animais sofrem também, em alguns casos, de alergias alimentares. Mas em qualquer uma destas situações a alergia pode ser facilmente detectada, através de um teste e consequente tratamento; alguns casos até com recurso à vacinação. Tal e qual como acontece com as pessoas.

2 - Infelizmente há patologias que requerem outro tipo de tratamento, com recurso a intervenções clínicas. Recorda-se de alguma cirurgia que tenha sido particularmente difícil de fazer?

Muitas, muitas… Há situações complicadas. Numa cirurgia ao estômago, por exemplo, o animal corre um grande risco de vida.

Já noutros casos não: esta semana fizemos a remoção completa do baço a uma cadela e correu muito bem. É um órgão sem o qual o animal pode viver. Ela já está a recuperar, mas vai ter de fazer tratamento oncológico.

Depois há ainda a assinalar as fracturas que resultam de pancadas ou atropelamentos e que implicam também uma recuperação lenta.

3 - Os veterinários nem sempre conseguem salvar os amiguinhos de quatro patas. Como é ver um animal morrer?

É muito complicado. Nas cirurgias não acontece muito, já que normalmente operamos animais que à partida têm condições para serem submetidos a uma intervenção cirúrgica. Mas por vezes torna-se desesperante, sobretudo no caso de animais politraumatizados ou com doenças terminais… Nem sempre podemos salvá-los. Eles deixam de responder aos tratamentos e isso é frustrante.

E é frustrante para o dono e para nós. Há donos que querem e fazem tudo pelos seus animais e nós também queremos, mas há situações limite em que já não conseguimos fazer mais do que deixar a vida tomar o seu rumo.

Mas temos de nos capacitar para enfrentar essas situações. Muitas vezes não sabemos se as coisas vão correr bem ou não e há animais que nos surpreendem.

4 - E os donos que querem, mas não têm disponibilidade financeira para suportar os gastos que um tratamento de uma doença acarreta?

Mais uma vez é frustrante os animais precisarem de tratamento e os donos não terem condições financeiras para isso. Com as pessoas, à partida a Segurança Social colmata falhas. Mas os animais não têm esse tipo de abrigo.

Daí que os seguros sejam muito importantes. Tenho vários colegas a trabalhar em Inglaterra e lá praticamente todos os animais têm seguro de saúde. Quando acontece qualquer coisa fora do normal (doença, atropelamentos, etc.) é o seguro que comparticipa. Dessa forma há espaço para tratamentos muito mais avançados.

Por cá estamos limitados pela capacidade financeira dos donos – que a crise veio agravar - e o país ainda não está culturalmente aberto a esta necessidade. Infelizmente ainda se pensa que só acontece aos outros.

5 - Apesar de tudo, há pessoas consciencializadas em relação aos direitos dos animais e que estão também alerta no que toca a abandonos…

Sim, nós trabalhamos em conjunto com os voluntários do Canil do Seixal e no nosso site temos um centro de adopção. Os animais que são encontrados na rua aparecem depois na página online para serem dados a conhecer a potenciais donos. 

Para além disso, os voluntários vão fazendo campanha nas escolas e há até uma que está a decorrer por cá, em que as crianças são autorizadas a levar para a escola o seu animal de companhia (desde que devidamente vacinado) e os voluntários levam os animais que estão abandonados. Dessa forma podem mostrá-los aos pais, amigos e família e assim angariar famílias de acolhimento.

São ainda organizadas palestras que têm como objectivo ensinar às crianças os cuidados a ter com os animais. No fundo, consciencializá-las para os direitos que eles têm e a dedicação que merecem receber.