Entrevista com o Dr. Sérgio Paiva, Clínica Veterinária Monte dos Burgos 04.03.2011 1 – Os animais de companhia podem fazer um rastreio gratuito na CVMB. Como é que funciona?

Tentámos por esta via aprofundar a responsabilidade social sobre os animais. Os problemas de saúde podem e devem ser detectados o mais precocemente possível, por isso, queremos alertar os donos para os sintomas que são facilmente visualizáveis.

Este rastreio funciona assim como uma análise rápida: temos uma conversa geral com os donos e examinamos os animais para confirmar ou descartar determinada doença. Associado ao rastreio, há sempre uma oferta relacionado com a patologia em causa. Por exemplo, se o animal tem anemia oferecemos uma embalagem com o alimento mais indicado.

No fundo, com este rastreio queremos que a mentalidade das pessoas se altere. Os veterinários ainda são muitas vezes encarados como bombeiros. Só quando as coisas estão a arder é que nos chamam. E a verdade é que há animais altamente resistentes, que toleram as doenças durante muito tempo e, se os donos não as detectam, depois já pode ser tarde demais.

2 – Para breve está prevista também a criação de uma nova plataforma que vai facilitar a vida dos donos e dos seus amiguinhos de quatro patas…

Sim, Aclinica.NET vai estar activa dentro de um mês e permite aos donos consultarem o historial do seu animal em termos de consultas, vacinas, recomendações… Não raras vezes, as pessoas perdem-se com as informações que estão no boletim de vacinas e, em situações de emergência, não o têm à mão. Nesta plataforma online vão poder fazer os seus próprios registos e agilizar os processos.

3 – Também promovem a entrega gratuita de rações ao domicílio desde 2008… Uma medida para continuar?

Ainda vigora. Todos os sábados de manhã fazemos a ronda pelas casas dos clientes que aderiram a este serviço. Embora a adesão não seja ainda muito grande, há clientes já sensibilizados nesse sentido. Até porque desta forma acompanhamos com maior proximidade os animais que estão a fazer alimentações específicas, aqueles que têm algum tipo de patologia. Quando passo para entregar a ração, acabo por dar uma olhadela ao estado de saúde do animal. 

4 – No que toca precisamente às doenças, uma entre as várias especialidades a que se dedicam é a oxigenoterapia. Em que consiste?

Há certos animais que apresentam disfunções ao nível do sistema cardio-respiratório. A oxigenoterapia consiste numa câmara especial conectada a uma fonte de oxigénio. As pessoas normalmente usam uma máscara, mas os animais ficariam stressados se os colocássemos nessa situação. Nesta câmara é-lhes fornecido oxigénio suplementar que varia conforme o tipo de patologia. Está ainda apetrechada de um sistema de controlo de temperatura e de ventilação para que o animal se encontre nas condições ideais. 

5 – Para além da clínica, têm um hotel onde os animais podem ficar alojados se os donos vão de férias ou se tiverem de se ausentar por alguns dias. O momento de ir ao recreio é dos mais aguardados do dia…

O ambiente é dinâmico pois estão constantemente a interagir com os outros hóspedes a partir das suas boxs, assim distraem-se mais do que em casa, ladram e cheiram à vontade… Alguns até chegam a casa mais tristes, porque sabem que vão ficar o dia todo fechados. Algo que, quando chegam a casa, se perde em muitos dos casos. 

6- O que precisam os donos de saber antes de trazerem o seu animal ao hotel da CVMB?

Aqui o conceito da refeição é invertido. Em primeiro lugar, o hotel não é a melhor solução; do ponto de vista do cão, a melhor solução é estar com o dono. Se a isso somarmos uma mudança de alimentação, a separação agrava-se ainda mais.

Daí que em vez de sermos nós a escolher uma das rações que aqui temos, pedimos aos donos que tragam a do seu animal. Podem preparar uni doses que são congeladas aqui (no caso de a alimentação não consistir apenas em rações secas). E os animais que estão sob medicação para problemas não infecto-contagiosos têm acompanhamento nosso no que toca aos medicamentos a administrar.

De modo a garantirmos um acompanhamento constante e personalizado dos nossos hóspedes temos implementado um sistema de registo diário de todos os pontos indicadores de bem estar dos animais tal como, apetite, actividade geral, etc.

7 –  Há estadias que até se prolongam no tempo. E os motivos não são os mais risonhos…

Já tivemos pessoas que, de facto, deixam o animal para três, quatro ou cinco dias e nunca mais aparecem. Ou apenas para lavar e tosquiar, mas com intenção de abandono voluntário.

Por isso - e explicamo-lo sempre às pessoas - é que o pagamento da estadia é sempre feito à chegada do animal, já para precaver essas situações. Depois de cinco dias de o prazo de recolha do animal ter expirado, e se não houver contacto do dono, ele passa a ser considerado abandonado. A partir daí fazemos uma campanha de adopção. É por essa via que arranjamos um novo lar para o nosso amiguinho.