ENTREVISTA - Clínica Veterinária do Cacém 31.08.2017 Clínica Veterinária do Cacém
 
Clínica em meio urbano, no Cacém, tem o nome da cidade e dá cara e corpo à medicina veterinária há 24 anos. A experiência é uma mais-valia, a que se acrescentam outras, como a inovação em parcerias - o lema é não virar costas e arranjar sempre solução para os clientes - e a assistência ao domicílio, mesmo sendo uma clínica da cidade (veja aqui a página de Facebook). Nesta entrevista, abordámos ainda como os animais de companhia ajudam na terapia de crianças com problemas e, também, os cuidados a ter com os patudos com o imenso calor que se tem feito sentir em Portugal.
 
A Clínica Veterinária do Cacém tem muitos anos de história. Recuamos no tempo?
 
Desde 1993. O projeto não é meu de raiz, é de dois colegas meus, aos quais me juntei em 1997 e sempre já como clínica veterinária. Atualmente, somos dois médicos veterinários, uma auxiliar que acumula a função de tosquiadora e temos parcerias com colegas nossos que fazem consultas de especialidade por marcação. 
 
As sinergias são prática cada vez mais comum na medicina veterinária. É esse o caminho?
 
Independentemente das atividades, acreditamos que, nos tempos que correm, várias parcerias e sinergias são e devem ser muito utilizadas. Dentro delas, não vou dizer que temos a solução para tudo, mas encontramos todas as soluções. 
 
Por exemplo, se o cliente precisa de transportadora para embarcar animal no avião, arranjamos. Se precisa de um dog walker ou ou um dog sitter, arranjamos. Se é preciso um medicamento difícil de arranjar, estamos cá para isso. Não viramos costas a nada. Conseguimos apresentar uma oferta global. Basicamente, a nossa prática assenta em valores, tentamos ajudar pessoas. Prestamos apoio técnico nesta área da medicina veterinária e em áreas limítrofes. No que possamos corresponder, tentamos ajudar. 
 
E o contrário acontece também. Agora tenho um problema na minha própria casa, nas canalizações, e tenho um cliente que executa esse tipo de serviços. Ele veio cá tratar do seu animal de companhia e agendei com ele a reparação. Acredito muito nisto, quem nos trata bem, tentamos tratar bem. Tentamos sempre, ainda mais quando há entre-ajuda. A economia é circular. 
 
A vossa clínica tem alguma característica especial?
 
Há uma vocação que nem todas as clínicas têm, mas que acho que deve ser mencionada: prestamos assistência ao domicílio, sempre que as pessoas solicitam o que, hoje em dia, é uma mais-valia. Há determinadas coisas que não podem ser feitas em casa, mas há outras que podem. Destaco talvez três nas quais não é possível tratarmos os animais de companhia nos seus lares: cirurgia, situações clínicas muito graves e, eventualmente, raio-x (embora se possa fazer em casa não tem a mesma qualidade).
 
Depois, somos dois médicos já com larga experiência. Este não é um projeto que começou há dois dias. Há sempre situações com que nos deparamos pela primeira vez, mas a experiência é uma mais-valia, que nos permite ter bom senso para resolver os problemas, sem fazer os exames todos e mais alguns, que muitas vezes se tornam dispendiosos para os clientes. Não quero com isto passar qualquer aspecto de sobranceria, antes pelo contrário. Dificuldades só não as tem quem não exerce a profissão.
 
Em termos de urgências, como é que os clientes podem ser assistidos?
 
Temos um telemóvel de urgência, que basicamente serve sempre como apoio sobretudo aos nossos clientes. Se percebermos que é uma urgência que podemos de facto apoiar é só dizer ao cliente para vir ter connosco e, em algumas situações, poderá ser em casa do cliente. 
 
Se forem casos muito, muito complexos, encaminhamos para os hospitais com os quais trabalhamos e temos boa referência. Referenciamos porque acreditamos no bom trabalho que prestam. E, se há anos atrás havia muito o receio de perder o cliente, hoje em dia podemos referenciar, mas o cliente volta. Lá está, também acredita na mais-valia das sinergias e parcerias.
 
Este verão tem feito parcerias com os picos de calor - há dias que têm sido mesmo muito quentes. Aproveito para lhe perguntar que cuidados devemos ter com os nossos animais de companhia para fazer face às altas temperaturas, em alguns locais do país acima dos 40º.

Há dois ou três aspetos fundamentais: água fresca e limpa sempre à disposição; no caso dos gatos se for corrente melhor, como aquelas fontes de água a pilhas. Se pudermos renovar uma ou mais vezes por dia a água dos cães, ótimo. 
 
Os nossos animais de companhia devem estar em locais frescos ou arejados, não numa única divisão da casa presos ou ao sol com temperaturas abrasadoras. 
 
E, obviamente, é um erro animais ficarem fechados no carro, chegam a morrer e isso revela uma total inconsciência por parte dos donos. Ter um cão ou um gato não é ter pessoas, mas é um ser vivo na mesma, tem de ser respeitado como tal. É preciso alertar a consciência cívica.
 
Acredita na responsabilidade social dos veterinários?
 
É algo em que acredito e que nos fóruns da especialidade tem sido amplamente discutido: a intervenção social do médico veterinário. Não é o médico estar restringido à sua atividade face aos animais, mas a sua atividade perante a sociedade, perante quem os detém, os donos e algumas instituições (cães de guarda, pastoreio). 
 
O bem-estar animal é fundamental, e a isso diz respeito também a não aplicação de métodos que antigamente se utilizavam, muito dolorosos. Temos um papel muito importante, que em princípio não é remunerado, mas é importante. Faz parte da nossa missão.
 
A esse propósito, há terapias com cães que ajudam crianças com problemas. O que pensa disso?
 
As terapias assistidas por animais são, precisamente, uma das parcerias que temos. Quer cães, cavalos, quer os golfinhos ajudam determinadas crianças com determinados problemas, seja trissomia 21, seja autismo, ou outro tipo de deficiências psíquicas e físicas. Acreditamos piamente nessa situação e há resultados práticos muito, muito relevantes. 
 
É óbvio que todas as coisas têm um preço e temos um país que não está atento a isto, infelizmente. É um cavalo de batalha. Haveria famílias que precisariam e gostariam de aceder a este tipo de terapias, e que acabam por não usufruir delas.