Hospital Veterinário de Coimbra - Dr. João Janelas 03.05.2017 Um projeto a dois, dois médicos veterinários, marido e mulher que queriam regressar à terra natal. O Hospital Veterinário de Coimbra nasceu há dois anos e tem crescido de forma sustentada. A funcionar 24 horas por dia, presta vários tipos de serviços a colegas que não tenham todos os meios necessários, dentro e fora de Coimbra. O banco de sangue de que dispõe é outra mais-valia, já que dependendo da patologia, utiliza-se apenas o hemocomponente mais indicado.

A filosofia deste hospital é aproximar a medicina veterinária à medicina humana. E, aqui, há paredes de vidro por todo o lado. "O animal não está escondido. Quem está internado gosta de ter visitas".

1 - Um sonho, um projeto, um hospital. Conte-nos tudo...

O Hospital Veterinário de Coimbra é um projeto idealizado - e concretizado - por mim e pela minha mulher. Trabalhámos antes em outras cidades e, como somos de Coimbra e queríamos trazer serviços diferenciados para cá, decidimos optar pela criação do hospital. É um projeto recente, com dois anos de existência, a crescer de forma consolidada. Contamos - e queremos contar cada vez mais-, com colegas e colaboradores que tragam ou possam trazer respostas às variadas situações que ocorrem em termos clínicos.

2 - Concorda que as parcerias são cada vez mais importantes na medicina veterinária?

Sim, e este projeto assenta na interação entre colegas. O hospital conta com algumas clínicas na região Centro que reencaminham os animais para nós, quando não conseguem resolver ou precisam de alguma ajuda extra. Não nos limitamos só à cidade de Coimbra , vamos até ao Porto, por exemplo.

Caminhamos para aí, na medicina veterinária, para o trabalho em parceria. A nossa filosofia é aproximarmo-nos à medicina humana. A imagem do veterinário que resolve tudo e que sabe um pouco de tudo é uma imagem que queremos alterar um pouco. Queremos que os nossos colaboradores se diferenciem em pelo menos duas áreas. Por isso, estamos a ir buscar colegas que gostem mais de uma área ou de outra, preenchendo as necessidades de forma capaz.

3 - Os colegas procuram os vossos serviços fundamentalmente em que áreas?

Endoscopia é uma das áreas fortes do nosso hospital, tal como a cirurgia minimamente invasiva. Os colegas contactam, expõem a situação e tentamos perceber e arranjar a melhor forma de ajudar. Há duas opções: ou trazem o animal às nossas instalações, o que é frequente entre os colegas que estão mais perto; ou nós, na impossibilidade de trazerem, deslocamos os endoscópios. Quando é necessária a cirurgia minimamente invasiva, aí só no hospital, por causa dos meios envolvidos.

4 - É muito comum os animais terem de ser submetidos a endoscopias?

É frequente a ingestão de corpos estranhos ou de partículas que respiram e ficam alojadas na cavidade nasal. Isto acontece muito nesta época da Primavera. São situações urgentes, porque os animais ficam aflitos. Nesses casos, deslocamo-nos de forma célere aos centros veterinários que nos contactam. Para além de Coimbra, já fomos a Aveiro, Porto, S. João da Madeira... Fazemos serviços para muitos hospitais, clínicas e consultórios, com uma equipa de sete veterinários, quatro enfermeiros e uma recepcionista.

5 - E o banco de sangue, como é que funciona?

Faz parte da rede um colega que se dedicou a essa área. Distingue-se pela seleção dos hemocomponentes, que vai enviando para nós, dependendo da validade. É um serviço ultra-diferenciado e que se assemelha, em tudo, à situação humana. Dependendo da patologia, usamos o hemocomponente mais indicado.

Numa gastroenterite, por exemplo, será mais indicado a determinada altura usar plasma. em vez da unidade de sangue total, que pode conter partículas que podem provocar algum tipo de reação. Damos só o plasma que é indicado para essa situação. É um serviço que nos diferencia imenso e ajuda a acelerar a recuperação dos animais. No fundo, vai de encontro à nossa filosofia, em termos de diferenciação e de parcerias, para disponibilizar aos colegas desta região que necessitem. Contactam-nos, temos aqui o alojamento dessas unidades, refrigeradas e controladas e cedemos-lhes as componentes que precisam.

6 - É um hospital a sério, podemos assim dizer, também quanto às urgências presenciais.

Sim, temos um médico residente, 365 dias por ano. Fora do horário dito normal fica sempre presencialmente um veterinário e um enfermeiro para fazer controlo e medicações dos animais internados, por um lado, e para controlo de situações de urgência. Quando são precisas mais pessoas, chamamos mais elementos da equipa. Seja feriado, domingo, todos os dias da semana. Tem de ser, até por causa dos animais internados, que necessitam de ficar sob vigilância. Mais vale prevenir do que remediar pequenos pormenores, como os casos de vómitos, temperatura, etc.

7 - Quantas boxes tem o internamento?

Temos 38 boxes disponíveis, divididas por quatro áreas. Há boxes especificas para cães, de vários tamanhos, com todas as comodidades, ar condicionado. Temos o internamento para gatos, que estão isolados, sendo que com os difusores de hormonas, conseguimos apaziguá-los, tentamos minorar o stress.

Depois, temos o internamento dos cuidados intensivos, também com várias boxes, vários tamanhos, torre de anestesia, concentradores de oxigénio, monitores... A quarta área é o internamento para animais infecto-contagiosos, que têm patologias que podem transmitir à restante população. Por causa disso, são internados em local com ventilação independente, banheira independente. Os colaboradores têm, inclusive, de trocar de sapatos e vestir roupa própria, na antecâmara que existe para o efeito.

8 - Espreitando o vosso site, percebemos que as pessoas podem ali agendar consultas facilmente.

Temos tido bastante adesão a essa ferramenta. É uma vertente que temos e damos resposta até 15 minutos. Procuramos fazê-lo nesse tempo. Ainda hoje, antes de estarmos a realizar esta entrevista, ficou marcada uma consulta através do site. Hoje em dia, há muito acesso pela Internet e preocupamo-nos em chegar de forma célere aos donos, que expõem problema na caixinha de texto. Nós entramos em contacto o mais depressa possível, tendo como limite esses 15 minutos.

9 - A relação com os donos tem vindo a mudar? Há uma cultura maior, hoje em dia, no que toca à relação dono-animal de companhia-médico veterinário?

Uso muito a expressão "temos de namorar os donos". Esta é uma medicina de emoções, para mim igual à humana e eu vou até ao fim do mundo com um dono. A nível económico há diferentes possibilidades, mas temos de dar resposta a donos com mais dificuldades. Temos de tentar, todos têm de ter uma saída, tenham muito ou pouco dinheiro. Como é óbvio, quanto mais exames, mais respostas somos obrigados a dar. Temos de estar preparados para ir até ao fim do mundo. É essa disponibilidade que eu procuro nos meus colaboradores e em mim mesmo: ir com os donos até onde eles querem ir.

Tem de haver, e vê-se cada vez mais, a preocupação, o estar conectado, o dono entender de forma inequívoca o problema, ter tempo, ter disponibilidade, tentar explicar as dúvidas, tentar fazer com que nos acompanhe na evolução do animal. Um dono que não esteja educado, não reconhece o nosso valor.

É também por isso que o nosso hospital tem vidros por todo o lado. Os donos conseguem ver o animal, ele não está escondido. Quem está internado gosta de ter visitas. Daí o vidro transparente. O caminho tem de ser esse: não esconder, não tapar, um dono mais informado vai dar-nos mais valor.