ENTREVISTA - VETVISÃO, Benfica, Lisboa 16.05.2016 Já alguma vez reparou, com cuidado, na saúde dos olhos do seu animal de companhia? Pois bem, devia. A VETVISÃO, em Benfica, é uma clínica especializada em Oftalmologia, na qual a Drª Elsa Pereira - que começou por fundar a Clínica Veterinária Elsa Pereira em Alfragide, e depois o Centro Veterinário de Alvalade - conta com a sócia Ana Paula Resende, que se dedica àquela especialidade. A Animadomus conversou com ambas e percebeu que ter visão, também no sentido figurado, é o lema que seguem todos os 9 profissionais que ali trabalham. Nesta equipa, todos os membros têm uma área de especialização, para melhor responder às necessidades dos pacientes.

Como e quando surgiu a ideia de criar uma clínica especializada em Oftalmogia, a VetVisão?

Elsa Pereira (EP) - O objetivo foi criar um serviço diferenciado com algumas especialidades, nomeadamente a Oftalmologia e, ainda, a Oncologia, Cirurgia e Ecografia abdominal. Sempre quisemos - e queremos - formar as pessoas que connosco trabalham de uma forma diferenciada, com especialização que passa ainda pela Traumatologia e Cardiologia, por exemplo. A equipa de 9 pessoas entre as três clínicas é multidisciplinar e interativa. Contamos sempre uns com os outros quando é preciso. Todos temos a capacidade de referenciar os animais dentro da equipa para os diferentes colegas, nas suas áreas respetivas. A ideia é, por isso, não pararmos só na consulta e na vacina.

No caso específico da VETVISÃO, a ideia surgiu também com a Ana Paula, que sempre se dedicou à Oftalmologia e se especializou nessa área, e precisava de um sítio para fazer algumas cirurgias, com uma série de aparelhos.

Os donos estão mais sensibilizados para os problemas oftalmológicos potenciais e visíveis dos seus animais de companhia?

Ana Paula Resende (APR) - As pessoas estão cada vez mais sensibilizadas. A grande maioria dos meus clientes vem por referência de colegas, quando precisam de ajuda mais direcionada, com equipamentos que a clínica geral não consegue ter, que para além de muito caros requerem uma curva de aprendizagem, especialização e dedicação exclusivas. Eu só faço mesmo Oftalmologia, especialidade à qual dedico todo o meu tempo.

Quais são os problemas oftalmológicos mais frequentes entre cães e gatos?

APR - Os problemas mais comuns são as patologias ulcerativas, diferente do que acontece com as pessoas, que têm mais falta de visão e acuidade visual. Basicamente, os problemas variam com a espécie, desde as patologias ulcerativas, de córnea, inflamações intra-oculares, febre da carraça, cataratas. E surgem independentemente da idade, embora alguns estejam mais associados à velhice, já que o olho sofre um processo de envelhecimento natural. Seja como for, não é obrigatório que um cão velho sofra mais.

Quais as raças normalmente mais afetadas?

APR - Entre os cães, o Sharpei, por exemplo, pela quantidade de pregas na cabeça, pode ter problemas ulcerativos, pelo que é necessário acompanhar o crescimento para evitar problemas graves. E, em geral, os braquicéfalos, isto é, os animais com focinhos muito achatados, como os Buldog, Pug e os Shih-tzu. Nos gatos, os problemas mais comuns passam pelas ceratites herpéticas, nos persas com mais facilidade.

A que sintomas devem então estar atentos os donos quando observam os olhos dos seus animais de companhia?

APR - Normalmente, o que alerta primeiro os donos é a dor: os animais fecham os olhos, pestanejam muito, lacrimejam. Costumam ser estes os sinais mais óbvios que trazem os donos ao veterinário. Outro tipo de sinais são a opacidade, as cataratas ou mesmo a falta de visão, quando começam a bater contra as coisas. Atenção, por isso, à alteração de coloração ou um tom mais esbranquiçado do olho.

Infelizmente, a consulta de rotina e prevenção não está muito instituída e as pessoas procuram os veterinários só quando o problema surge, mas aqui na VETVISÃO os clientes e colegas estão sensibilizados para isso. O exame oftalmológico faz parte do exame geral. Recebo muitos animais que foram à vacina pela primeira vez e foram logo referenciados nessa idade para acompanhamento oftalmológico.

Outra das inovações de que dispõem, em termos tecnológicos, é a Cirurgia Laser de Co2. Em que consiste e em que casos é aplicada?

EP - É uma técnica que tem uma grande vantagem: permite operar, com a remoção de tecidos moles em que automaticamente se faz simultaneamente a cauterização dos vasos. Não há sangue no campo cirúrgico, é uma cirurgia mais limpa, que evita hemorragias difíceis de controlar, para além de ser mais rápida. É comum realizar-se nos braquicéfalos, por serem muito sensíveis do ponto de vista respiratório. Têm sempre dificuldade em respirar e têm de ser muitas vezes operados, para uma cirurgia corretiva das narinas e do palato. Corrigimos esse defeito, sem sangue e sem pontos, para que respirem em condições e deixarem de fazer apneia do sono. Saem daqui logo melhor.

Quais então os vossos horários de funcionamento?

EP - Dispomos de um horário de clínica, das 10:00 - 13:00 e 16:00-20:00. O almoço alargado funciona precisamente para que a equipa consiga fazer determinadas cirurgias, de forma mais cuidada, e quando são necessários especialistas diferentes no mesmo ato cirúrgico. Ao sábado, o horário vai das 10:00 às 14:00.

As urgências funcionam por telefone. Se for uma situação que conseguimos resolver, resolvemos na clínica. Se for necessário, por exemplo, internamento, como por enquanto não temos hospital, fazemos o reencaminhamento para um hospital de referência.

Isso quer dizer que o hospital é um dos projetos de futuro para o grupo?

EP - Era uma das coisas que gostávamos de concretizar. Começamos a ter, de facto, algumas situações e casos clínicos que requerem internamento e pós-operatório. Ainda no sábado passado realizámos uma cirurgia às cataratas em que montámos a tenda, literalmente, na VETVISÃO e ficámos o fim-de-semana todo a trabalhar, inclusive durante a noite e no domingo também.